Israel intercepta flotilha humanitária rumo a Gaza: Mariana Mortágua e Sofia Aparício detidas

A Marinha israelita intercetou esta quarta-feira, 1 de outubro de 2025, várias embarcações da flotilha humanitária Global Sumud, que se aproximava da costa de Gaza a menos de 150 quilómetros de distância, detendo dezenas de ativistas, incluindo a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e a atriz Sofia Aparício. Os dois portugueses seguiam em barcos diferentes desde a passagem por Creta e foram abordados pelas forças israelitas por volta das 20h30 locais (18h30 em Portugal continental), tendo sido obrigados a lançar os telemóveis ao mar, o que os tornou incontactáveis. O ativista português Miguel Duarte, que viajava noutra embarcação, não foi detido e o seu barco continua a navegar em direção a Gaza.

Governo diz não ter obrigação de proteger flotilha humanitária rumo a Gaza  com Mortágua - Mundo - Jornal de Negócios

A Global Sumud Flotilla, a maior missão humanitária marítima organizada até à data com mais de 40 embarcações de vários países, partiu de portos mediterrânicos como Barcelona e Sicília no final de agosto, com o objetivo de romper o bloqueio naval imposto por Israel a Gaza e entregar alimentos, medicamentos e outros suprimentos à população palestiniana, que enfrenta uma crise humanitária agravada pelo conflito em curso, com mais de 66 mil mortes reportadas. Entre os detidos internacionais destacam-se a ativista sueca Greta Thunberg e jornalistas italianos, que relataram em transmissões ao vivo o cerco naval e a “guerra psicológica” imposta pelas forças israelitas, incluindo mensagens de propaganda e drones de vigilância.

Num vídeo pré-gravado divulgado no Instagram, Mariana Mortágua, que suspendeu o seu mandato parlamentar para participar na missão, antecipou o cenário: “Se estão a ver este vídeo, é porque o meu barco, o Adara, foi intercetado ou atacado pelas forças israelitas. Muito provavelmente, fui levada contra a minha vontade numa detenção.” Durante uma transmissão em direto pouco antes da interceção, a deputada relatou a aproximação de navios israelitas e o pedido de contacto com o capitão, após o qual a comunicação foi cortada. A organização da flotilha denunciou a ação como “ilegal” em águas internacionais, rejeitando a oferta israelita de transferir a ajuda por canais alternativos, e afirmou que pelo menos seis embarcações foram abordadas, com comunicações interrompidas e o estado dos ocupantes incerto.

Israel intercepta flotilha humanitária e detém Mariana Mortágua | Médio  Oriente | PÚBLICO

Israel justificou a operação como uma medida de segurança no âmbito do bloqueio naval legal a Gaza, uma zona de “combate ativo”, e garantiu que os detidos estão “seguros e saudáveis”, prometendo transferi-los para um porto israelita e permitir visitas consulares na primeira oportunidade. O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita reiterou que a flotilha viola o direito internacional ao tentar romper o bloqueio.

O Governo português confirmou as detenções através do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que desde a partida da flotilha tem monitorizado a situação e emitido apelos para que os ativistas permanecessem em águas internacionais, alertando para “riscos muito sérios”. O ministro Paulo Rangel afirmou que os três portugueses foram “sempre acompanhados” e que a embaixada em Telavive está em contacto permanente com as autoridades israelitas, exigindo tratamento “com dignidade e sem violência”. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa assegurou “todo o apoio consular” e o acompanhamento próximo do regresso a Portugal, enquanto o primeiro-ministro Luís Montenegro destacou o contacto com Itália e Espanha, cujas marinhas enviaram fragatas para escolta humanitária, mas que se limitaram às águas internacionais. Joana Mortágua, irmã da deputada, expressou “repúdio” pela detenção e confirmou o contacto com Miguel Duarte.

A operação, que pode demorar devido ao número de embarcações, reacende tensões internacionais sobre o bloqueio a Gaza e o direito à ajuda humanitária, com críticas de ativistas que acusam Israel de obstruir esforços de solidariedade civil. A UE, através de António Costa e Ursula von der Leyen, recusou-se a comentar o caso.